Produção

Chuvas causam prejuízo para lavouras de arroz da Zona Sul

A semeadura do arroz na região era de 38% até este mês; no mesmo período do ano passado o plantio já estava bem mais adiantado, com 73%

Gabriel Huth -

Os estragos causados pela chuva, além de terem consequência nos bairros de Pelotas, trazem dor de cabeça a alguns produtores da região. O arroz é uma das culturas que têm sofrido com o alto volume de precipitação em outubro. Até sexta-feira, o volume acumulado era de 159,5 milímetros para a cidade, com possibilidade de aumentar, já que a chuva continua até o final do mês, segundo o Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPPMet) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

De acordo com levantamento do Instituto Riograndense de Arroz (Irga), até o dia 25 deste mês a semeadura do arroz na Zona Sul era de 38%, sendo 45% somente em Pelotas. No mesmo período do ano passado o plantio já estava bem mais adiantado: 73% nos municípios da região.

Na última quarta-feira pela manhã, o produtor Fernando Rechsteiner, 44, teve um dia de trégua e aproveitou para dar continuidade à semeadura da cultura. A propriedade fica na BR-116, próxima à localidade do Posto Branco, onde a família gerencia 1,2 mil hectares de arroz. A lavoura de Rechsteiner está toda drenada pra escoar a água. Porém, não é só esperar o fim da chuva e voltar para a lavoura - as condições climáticas precisam ajudar na secagem do solo. "Engrenava uma chuva atrás da outra e a gente não conseguia trabalhar", conta Fernando.

O primeiro dia de plantio foi em 9 de outubro. De lá pra cá os funcionários só conseguiram trabalhar três dias em solo. "A nossa ideia era início de outubro já ter plantado", diz. Serão necessários mais cinco dias de plantio. E o trabalho é 24 horas por dia para os 50 funcionários da lavoura. "Só troca o turno", completa.

A propriedade opera em sistema de rotação - alternando entre plantio de soja e arroz a cada ano. Assim que é feita a colheita da soja, a terra está praticamente pronta: só falta realizar "marachas" - ajuntamento de terra em linhas, liberando a área para o plantio e segurando a água de irrigação ao arroz. "A gente já fica com as áreas prontas muito cedo. Então é só plantar. Quem não tem essa rotação ainda tem que fazer o preparo da área. Aí a situação é bem pior", analisa.

Segundo André Matos, responsável pela Coordenadoria Regional do Irga, 30% dos produtores fazem rotação entre culturas e 70% têm produção direta, maioria que está enfrentando grande atraso na semeadura. O preparo pré-plantio é feito entre os meses de agosto e setembro. Quem não conseguiu devido às chuvas tem mais risco de baixa produtividade. Mas, para André, a situação "fugiu do controle do produtor". Não tem preparo antecipado que aguente o acumulado de chuva deste mês.

A dificuldade está no período de fase reprodutiva do arroz: se acontece muito tarde, numa época que o dia é mais curto, produz menos e, portanto, serão menos toneladas colhidas, causando prejuízos financeiros para o produtor. A qualidade do arroz não é afetada, diz Rechsteiner. O problema é que terá um trabalho maior na irrigação das sementes, exigindo mais mão de obra.

"As variedades que nós plantamos o maior potencial produtivo delas é no máximo até a primeira semana de novembro. Não podemos ultrapassar, que aí o potencial começa a cair", explica. "Tu gastas a mesma coisa por hectare e colhes menos, fica mais caro."

Vantagem competitiva
"Paraguai tem uma vantagem competitiva sobre nós, principalmente por causa da carga tributária e o custo de produção deles, que é muito menor que o nosso", conta o produtor. Enquanto no Brasil, 30% do custo de produção do arroz é em tributos, no Paraguai o percentual fica em torno de 10%, diz Rechsteiner. O conselheiro do Irga completa: "Plantar um hectare de arroz no Brasil é 51% mais caro que no Paraguai, Uruguai e Argentina".

É uma conjuntura que facilita a entrada de arroz estrangeiro e dificulta a saída da produção brasileira, já que o câmbio também não favorece a exportação. "Criamos excedente externo. Nós recebemos arroz de fora que não deveria estar entrando, que aumenta a oferta e baixa o nosso preço", conclui. Entidades ligadas ao arroz já têm buscado alternativas em Brasília. O pedido é de intervenção do governo federal no Mercosul, com imposição de cotas para produção de fora.

Números da lavoura de Rechsteiner
1,2 mil hectares de arroz
40% plantado
90 a 100 quilos de semente por hectare

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